sexta-feira, 19 de março de 2010

Escrituras de Sabedoria

Hoje em dia critica-se muito as religiões pelos seus adeptos, porém, com o mínimo de conhecimento e discernimento julgamos uma religião inteira, se baseando por alguns poucos que de alguma forma ou outra fazem com que agimos com preconceito contra a religião.
O conhecimento sem a prática é um grave erro, é o que muitos pensadores orientais tanto ensinaram, com certeza um dos maiores ensinamentos que o Homem tem em mãos. Tanto nas religiões ocidentais como nas orientais, todas tratam basicamente de uma única “coisa” Deus, e sabe-se que por mais nomes que o Homem possa dar a Ele, todas as religiões tratam Dele.
Segundo os contos Sagrados, o Homem seria um descendente próximo da grande iluminação, do paraíso, de Deus. Este Deus(es) nos ensinam a como sermos melhores como habitantes neste planeta, de alguma forma ou outra, usando de homens para transmitir mensagens para outros homens. Cabe aos homens aceitarem e praticarem os ensinamentos.
Após este breve resumo de cunho filosófico sobre a essência que tenho percebido em um curto estudo sobre as varias Escrituras Sagradas e suas religiões, delimitarei minha linha de pensamento a respeito do assunto que pretendo abordar, sem ser muito longo neste.
Na nossa realidade brasileira rio grandense, estamos definitivamente em um aspecto cultural cristão, sendo assim, os nossos livros sagrados estão/são a Bíblia Sagrada, o que é um conjunto de escritos que inspiram o homem a chegarem mais próximo de Deus e de sua misericórdia. O livro que passa muitos versículos de sabedoria é Provérbios, escrito por Salomão, que segundo os contos teria sido o homem mais sábio existente, neste livro percebemos que Deus transmite ensinamentos a respeito de situações que o homem pode usar da inteligência, do amor para com Deus e humanidade e humildade.

“O que adquire entendimento ama a sua alma; o que conserva a inteligência achará o bem”.
Provérbios IX - VIII.
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”.
Pv. XV - I.

Cito dois exemplos de versículos que compõem a biblio (pequeno livro) de provérbios, assim percebemos que são ensinamentos a respeito de contendas e de como usar sua inteligência e conhecimento, ou melhor, como agir com sabedoria.
Um sábio indiano disse certa vez que as escrituras eram a palavra de Deus, e não é a palavra de Deus. Neste e mais alguns outros contextos de pensamento desenvolveu-se muitas linhas religioso-filosóficas, sendo hoje ainda conhecida, a Índia é um grande berço de grandes sábios. As maiores religiões nascidas lá, hinduísmo e o budismo (não é bem uma religião), tendo estas, diversas linhas “internas” de divisões.
No livro Bhagavad Gita, qual inspirou grandes homens, sendo o Mohândas Gandhi um seguidor deste livro, podemos observar pelo modo de vida dele, como pode ser aplicado, não somente o canto do mestre, mas sim outras tantas escrituras. Este livro, sendo diferente um pouco dos escritos cristãos, no qual Deus fala de longe, salvo na imagem de Jesus Cristo, ele não tem participação como no Gita, neste a Divindade como Homem passa os ensinamentos para Arjuna, seu melhor discípulo .

“Muitos há que, saciando-se com as letras (ou com o sentido exterior, superficial) das Sagradas Escrituras e doutrinas, e não podendo perceber o seu verdadeiro sentido interior, acham grande deleite em controvérsias técnicas a respeito do texto, em definições monstruosas e abstrusas interpretações.
Os corações desses homens estão cheios de desejos e esperanças pessoais; o seu mais alto ideal é um céu, onde acham todos os objetos de seus prazeres, a satisfação do seu sensualismo, e não se elevam à altura de onde se percebe a união de todos os seres. Usam palavras floreadas, inventam várias cerimônias e falam muito dos prêmios que esperam aqueles que as observam, e dos castigos em que caem os que são de outras opiniões”.
Cap II. IL - XLIII

No bhagavad gita, vemos este exemplo de escrituras que nos dizem de como usar os ensinamentos e distinguir os que usam de sabedoria dos que usufruem de belas palavras e oratória para alimentar seu orgulho.
Sendo breve entrarei no mundo chinês, o Tao te ching, o livro que nos ensina o Caminho do meio, o taoísmo, uma linha de sábios, parecidos em alguns aspectos com os budistas, porém com identidade muito própria. Como diz no livro, não se apegue no mestre, mas sim no ensinamento.

“O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas”
Tao te ching – cap. I

“A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado
Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva os homens e não abandona os homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz”
Tao te ching – cap. XXVII

Para terminar este breve resumo de livros com sabedoria, não poderia deixar de falar sobre o budismo, que envolve a China e a India, citarei Bodhidharma. Como ele ensinou, palavras não expressam o verdadeiro valor, a Verdade que o coração deseja expressar, como já observamos no Tao te ching, terminarei com uma experiência dele com seu sucessor Huike, a situação demonstrara muito do pensamento zen.
Consta que quando Bodhidharma quis voltar para a Índia reuniu seus discípulos e disse: "Podeis me dizer algo que demonstre vosso entendimento?" Dao Fu se adiantou e disse: "Não está ligado pelas palavras e frases, nem está separado das palavras e frases. Esta é a função do Tao". Bodhidharma disse: "Chegaste à minha pele". A monja Zong Chi deu um passo à frente e disse: "É como um vislumbre glorioso do reino de Akshobhya Buddha. Visto uma só vez não é preciso vê-lo novamente." Bodhidharma respondeu: "Chegaste à minha carne". Dao Yu por sua vez disse: "Os quatro elementos são todos um vazio. Os cinco skandhas não têm uma existência real. Nem um só Dharma pode ser compreendido." E Bodhidharma: "Chegaste aos meus ossos". Finalmente Huike se adiantou, inclinou-se em reverência e se aprumou sem dizer uma palavra. Bodhidharma exclamou: "Chegaste à minha medula!", e lhe transmitiu o manto e a tigela, símbolos do Patriarcado.
Minha idéia não é revolucionar seu modo de ver a vida, e encarar os problemas, mas sim mostrar que tantos caminhos podem levar ao mesmo lugar, o dever de cada um, segundo líderes religiosos mais liberais, é o de não se perder no caminho que da de encontro a Verdade ou Deus se preferir.

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